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A importância dos edifícios de energia zero para a construção

Nas últimas duas décadas, um novo tipo de edificação vem sendo construído, principalmente nos Estados Unidos e na Europa, são os denominados “High Performance Buildings” (HPB) ou edifícios de alto desempenho ambiental e energético. Dentro dos componentes que consomem energia nos edifícios estão todos os sistemas mecânicos ativos (ar condicionado, ventilação, iluminação, hidráulica, automação, equipamentos) e um edifício de alto performance é aquele que consegue otimizar ao máximo o funcionamento dos sistemas e solicitar o mínimo de energia necessária para a operação deles. Esse tipo de edifícios são fruto de uma combinação exitosa de projetos de engenharia e arquitetura que já nascem com soluções inteligentes/eficientes, são corretamente executados nas obras, e, posteriormente, são bem operados e mantidos durante a vida útil dos empreendimentos.

Como uma variante dos HPB, talvez a mais avançada (cutting-edge) seja os edifícios “Zero Net Energy” (ZNE) ou Edifícios de Consumo Neto de Energia Zero. Um edifício ZNE pode ser definido como “aquele que comprova que o consumo de energia local da operação é zerada por uma combinação de alta eficiência energética e geração de energia por fontes renováveis” segundo a definição da Guia de Certificação GBC Brasil Zero Energy.

Realidade Nacional

Em 2017, foi lançada a primeira certificação para edificações de consumo zero energia pelo GBC Brasil com um sistema que se aplica a todos os tipos de edifícios que tenham ocupação permanente: residencial, comercial, industrial, etc. Embora a obtenção da certificação exija um período de avaliação de desempenho energético de 12 meses, após o funcionamento dos edifícios de energia zero, existe a possibilidade de pré-certificar o projeto utilizando as vantagens e potenciais das simulações de energia durante o desenvolvimento do projeto, podendo fazer uma grande diferença para obter projetos energeticamente eficientes, utilizando energias renováveis e alcançando o objetivo de ser “Energia Zero”. A seguir, algumas das características dessa certificação:

Requisitos:

1. Tempo de operação: 12 meses de operação e medição de energia;

2. Taxa mínima de ocupação: ocupação mínima média de 50% da área construída (não aplicável a residências);

3. Metragem mínima das áreas construídas: 100m2 (não aplicável a residências);

4. Tipologia: edifício para uso permanente (não temporário);

5. Atendimento às legislações municipais, estaduais e federais;

6. Construção fora da rede: no máximo 5% da energia fóssil compensada pelos CERs (certificados de energia renovável) ou 100% de energia renovável;

7. Eficiência energética mínima para geração no local (On Site) e fora do local (Off Site);

8. Geração de energia renovável no local: geração 100% de energia renovável no local ou fora do local, ou ainda compra de créditos (RECs);

9. Geração de energia renovável fora do local:  geração 100% de energia renovável fora do local ou compra de crédito

10. Compra de créditos de energia renovável;

11. Uso de energia não renovável: compensação de 100% de todas as fontes de energia não renováveis com a compra de créditos

12. Balanço energético anual do edifício.

Por outra parte, a nível internacional, recentemente foi lançada o LEED ZERO que também considera redução de consumo de Agua (Water) e de resíduos (Waste). Felizmente para o Brasil, foi em Curitiba onde certificou-se o primeiro edifício LEED Zero do mundo, o que é particularmente importante para a indústria nacional da construção, abrindo um novo mercado de eficiência energética e operacional, especialmente para edifícios de energia zero existentes.

Além do mais, devido aos diversos tipos de microclimas tropicais presentes no país, a solicitação por aquecer o ar é muito baixa na maioria das regiões ou nula, sendo o aquecimento (heating) um dos sistemas que mais consomem energia em outras partes mais frias do mundo, aqui quase não se aplica. Portanto, a junção de climas favoráveis ao conforto térmico e ao barateamento progressivo na geração de energia renovável fazem do mercado brasileiro um terreno propício para projetar e recondicionar edifícios “Zero Energy”. 

Importância atual

Para Agência Internacional de Energia, em um cenário futuro (2030), uma das áreas de maior impacto na mitigação das mudanças climáticas, com objetivo de reduzir o aumento das temperaturas globais, será a eficiência energética, representando aproximadamente 55% do total de mitigação. Desta forma, o maior campo de ação está nos edifícios existentes, o que consequentemente implica reduzir as emissões de carbono associadas ao uso e operação das instalações. Neste cenário, surgem os edifícios “Zero Carbon” ou “carbono neutros” sendo aqueles que no consumo de energia não produzem emissões de carbono, porque as fontes de energia são limpas e renováveis. As vantagens desses edifícios de energia zero, em relação aos convencionais, estão em várias áreas: operacional, ambiental, econômica e de resiliência. Neste período tão particular da história universal, quando estamos passando por uma contingência global que já modificou a forma que nos relacionamos como sociedade, afetando os ambientes corporativos e a concentração presencial dos colaboradores, hoje, mais do que nunca, é fundamental reduzir os valores de condomínio para poder viabilizar a utilização e locação de milhões de metros quadrados que estão sendo obrigados a ser recondicionados para usos atuais e futuros. O que deveria ser uma tendência mais forte no futuro, veio a ser quase um imperativo, indicando que os edifícios de energia zero devem ser autossuficientes tanto em energia quanto em água. Um edifício Zero Energy / Carbon pode chegar a ser entre 50%-70% mais eficiente que um edifício convencional, representando grande redução de consumo, segundo o Departamento de Energia dos Estados Unidos (USA). Portanto, é muito provável que essa tendência de prédios de alto desempenho vire rapidamente uma solicitação de parte de clientes e operadores de prédios.

Benefícios e Perspectivas futuras

Para as próximas décadas, a previsão da Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC) indica que até o ano 2050 todos os países deverão ter normativas Near Zero Carbon. Essa iniciativa da GlobalABC representa uma chamada urgente para ações coletivas em eficiência energética que combatam as mudanças climáticas. Já o Reino Unido (UK) prometeu alcançar “emissões zero até 2050”, sendo o primeiro país em se comprometer com esse horizonte altamente eficiente. Mas o que efetivamente está acontecendo na prática é que esse cenário pode demorar mais tempo, em função das diferenças na aplicação das normativas locais e ao avanço da indústria da construção nesta transformação de paradigma. Como já mencionado, um dos lemas da arquitetura no século XXI deveria ser “A Forma segue a Energia” e está ficando cada vez mais claro que este é caminho que as edificações do futuro vão seguir.

A pergunta que surge é: os ambientes de trabalho e as residências estão sendo preparados para ser autossuficientes?

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