A neurociência já comprou que o ser humano ganha ao servir. O ato de doar o que se tem disponível faz a vida ter sentido, gera prazer de vida, desenvolve virtudes, molda o caráter, ativa os hormônios da felicidade, aumenta as saúdes: física, emocional, espiritual.
Como o privilégio da vida foi uma dádiva, um presente dado sem que nada antes tivéssemos feito para merecer, nossa essência busca continuamente fazer algo que mostre que nossa vida vale a pena para o contexto que vivemos. É realmente nobre e aprazível para nós sentirmos que somos reconhecidos pelo que entregamos ao outro, aos outros, mesmo que desconhecidos. É como validar o passaporte da vida. Internamente, no inconsciente principalmente, uma voz diz, você merece a vida que ganhou! É por isso que promover mais vida e esperança ao próximo traz longevidade, bem estar, aumenta imunidade e reduz o risco de doenças emocionais, físicas ou da alma.
Fazer parte, pertencer, faz a vida florescer. Ter a família, os amigos, os vizinhos, os colegas de trabalho, os grupos de interesse em comum e a comunidade que nos cerca é de fato o insumo que precisamos para ter uma vida digna do nosso existir.
É lindo ver nos trabalhos que realizo de consultorias e processos de desenvolvimento humano, como é o coaching, as pessoas se esforçando e se dedicando a serem melhores, é a prova que desejam realizar ainda mais belezas e coisas importantes para algo e para alguém. Desejam ver um mundo melhor a partir de suas próprias ações!
Há alguns anos me dedico ao voluntariado do Hospital Albert Einstein semanalmente e pude sentir na pele que doar algo que tenho disponível a dar, sem nada em troca, me trouxe mais vida. Sentir o orgulho de fazer parte de algo que só pode ser feito com um pouco de cada um é humanamente grandioso. É talvez a melhor recompensa que podemos ter nesta terra.
Muitos ainda acreditam que só podem voluntariar ou doar algo quando estiverem com tudo que desejar ter. É uma maneira equivocada e de baixa potencia de vida. Todos temos algo a dar e dando não nos falta, multiplica.
Alguns doam dinheiro, outros doam tempo, outros doam sorrisos, outros doam apoio, disponibilidade, conversas agradáveis, elogios, esperança, fé, amor… sempre há o que doar quando agimos em favor de uma causa ou princípio importante de vida.
Nossa parte neste latifúndio é doar aquilo que temos e assim nos encher de força para conquistar ainda mais daquilo que doamos. E, neste exercício de ampliar nossas virtudes e caráter, a vida constrói belíssimas histórias, para nós e para os outros que beneficiamos. O benefício do outro, a partir de nós, é sim o nosso maior benefício na vida.
No voluntariado, tenho a honra de convivendo com as centenas de outros voluntários e me alimento dessa força, ganho vida, ganho beleza, me realizo, me ajusto, sinto plenitude. O mundo vale a pena! Pedras no caminho não se agigantam. Por lá sempre dizemos muito obrigado para todos aqueles que nos dão a honra e o privilégio de ajudar. Que bom que você nos permitiu ajudar você! Ajudar você nos dá mais do que estamos dando a você. Lindo tudo isso.
Nesse time de voluntariar é também parte do latifúndio evoluirmos enquanto seres humanos, ampliarmos o exercício de nossas virtudes. Por lá, os voluntários também dedicam tempo e esforços, se preparam continuamente para serem ainda mais humanos, em toda potência disponível.
Como coach de voluntariado experiencio histórias da dor de muitos em julgar que pouco fazem. A demanda é grande e o desejo de solucionar por completo as mazelas e dores dos beneficiados é ainda maior.
Parte desde desejo é mola propulsora e outra parte auto gestada. Nossa parte não tem como meta tudo fazer. Nossa parte tem como meta o máximo fazer. É humano, é humilde, é apropriado em alto grau. Molda nosso espírito, nos coloca no lugar certo. Nem mais, nem menos. Nem maior, nem menor. Igualitariamente, na medida.
Ajudar alguém não é sentir-se mais que o ajudado, nem maior que o ajudado, é sentir-se parte da vida do ajudado com aquilo que temos disponível para dar, com aquilo que trabalhamos continuamente para mais dar.
Se você e sua empresa ainda não desenharam o ofício de doar, voluntariar, e desejam faze-lo, compartilho aqui minha dica para começar. Veja se faz sentido para você:
- O que você faz e o tempo para quando você faz? Cozinha, artesanato, costura, brincadeiras e palhaçadas, conversas, aulas, leituras, compras, eventos,…
- Que virtudes você usa quando faz o que o tempo para quando você faz? Amor, gentileza, entrega, respeito, criatividade, conhecimento, perdão, esperança, humor, espiritualidade, beleza, gratidão, flexibilidade.
- O que faz você decidir-se por ampliar suas virtudes enquanto doa? Ganhar vida saudável, ter auto orgulho, pertencer a algo importante e grandioso, servir ao mundo,…
- Você se sente capaz de doar e voluntariar nestas suas habilidades declaradas?
- Quanto dinheiro e/ou tempo por semana ou por mês você gostaria de separar para doar e voluntariar?
- A sua decisão de iniciar a prática de doar e voluntariar depende de quem?
- Doar e voluntariar irá lhe trazer ou trazer para quem você ama prejuízos?
- O que você decide hoje ser a sua parte neste latifúndio?
Posso imaginar como se sentiu respondendo essas questões. Elas te incluem. Elas afirmam que sua vida faz sentido, vale a pena e há muito a servir. Há muito a ganhar, em quaisquer contextos.
Emociono-me quando vejo um voluntario que muitas vezes está passando dificuldades financeiras, na vida afetiva, nas relações familiares… e ainda assim segue sorrindo ajudando quem precisa.
Um voluntário ganha também quando percebe a beleza que é quando, apesar de suas dificuldades, segue doando. Penso que se parece com a maternidade ou paternidade. Mães e pais muitas vezes não se abatem com as dores porque tem filhos. Os filhos fazem dos pais, leões e leoas, não é mesmo? A força de voluntariar é tão poderosa que como bumerangue o que é entregue, pelo coração, pela generosidade, pela doação, retorna a quem o faz! Retorna. É circular como o mundo.
Nelson Mandela, Madre Tereza, Malala Yousafzai, Princesa Diana e muitos outros que se misturaram com aqueles que menos tinham, mudaram o mundo, fizeram a sua parte neste latifúndio. E mesmo que, impossibilitados de grande coisa fazer, fizeram tudo que podiam, tal qual no conto do beija-flor que com uma gotinha de água no bico voou para apagar o incêndio. A ave grande zombou dele dizendo: Você acha mesmo que essa gotinha irá apagar o incêndio todo? O beija-flor respondeu: Decidi fazer a minha parte. Esta é a minha parte!