Uma grande empresa de varejo nos convidou para conduzir e orientar a execução do piso de uma de suas lojas em construção. O objetivo era ambicioso: fazer o melhor piso da rede e do mercado, e estabelecer os parâmetros e procedimentos para as próximas obras.
Nossa primeira surpresa, entretanto, veio acompanhada com a segunda e com a terceira, no mesmo momento e instante. E graças a elas, temos certeza, o piso ficou muito bom…
Nosso encontro com o Gestor da obra foi marcado para as sete horas da manhã. Chegamos ao canteiro e lá estava o cidadão. E com um sorriso largo do tamanho enorme da obra estampado no rosto. Percebemos que ele não era engenheiro. Era um diretor executivo da corporação, encarregado dos projetos e infraestrutura. Seu cartão de visitas trazia seu nome e logo abaixo o modesto título de vendedor. E sem a gentileza esterilizada ele nos conduziu ao seu container, que lhe servia de escritório. Foi uma reunião grande com todos os envolvidos no projeto. O container ficou pequeno para tanta gente!
Percebemos que o ambiente da obra era amigável e se via sorriso nos rostos das pessoas. Muito diferente do que vemos nas demais obras, sempre tensas…
A construtora encarregada da obra era pequena e o próprio diretor comandava os serviços. Sua experiência era grande. Sabia o que fazia em detalhes. Falava do orçamento, do planejamento, custo e cronograma com a mesma desenvoltura com que distribuía os serviços do dia. E sorria. Era um especialista maduro que possuía todos os recursos ‘in house’ para executar a obra. Do topógrafo ao rolo compactador.
Uma gerenciadora, também pequena, mas bem estruturada, dava-lhe apoio com dois profissionais da área de qualidade. Não eram fiscais e tampouco algozes. Apresentavam-se como qualificadores e ajudavam a fazer as coisas certas. Participavam da produção.
A obra andava a todo vapor. Mesmo os profissionais mais acostumados com o cronograma acelerado deste tipo de projeto não deixariam de se impressionar com a velocidade em linha reta dos serviços. Atrás de tudo, na coordenação geral, estava este executivo ‘dono’ do empreendimento. Um administrador com um invejável raciocínio lógico, ávido para conhecer cada detalhe de engenharia empregada em sua loja. Sua arma não era o grito que se ouve dos gerentes em desespero, era o sorriso e a comunicação fácil de um homem de vendas.
A obra tinha um astral de alegria naquele ano carrancudo de 2016.
Assumimos a direção dos serviços do piso e o conduzimos com autonomia. Definimos o traço mais avançado de um concreto com coloração clara e de fácil aplicação. Treinamos a equipe de execução e a concreteira, distribuímos os ‘Procedimentos Executivos’ para todos os envolvidos no trabalho e comandamos os dois primeiros dias de execução. Quando tudo se engrenou, reduzimos nossa visita para uma só vez por semana e tudo correu de forma exemplar.
O piso foi concluído sem um único entrevero e ficou como todos queriam: bonito!
No varejo, todos querem e sonham com um piso bonito. Bonito implica em qualidade. O que é feio anda de mãos dadas com o mal feito. O piso ficou sem fissuras, delaminações, e manchas. Não tem absorção e é bem clarinho.
Radiografando o sucesso, notamos que o projetista do piso é de primeira ordem, pessoa estudiosa com profundo conhecimento teórico sobre a matéria. As especificações executivas que fizemos foram aceitas e não retalhadas e a condução dos trabalhos pôde ser realizada com ciência e lógica, sem improvisos e vícios.
Sem nenhum atropelo ou desespero, stress ou ameaça, o piso ficou pronto no prazo e com a qualidade desejada. Até nossa fatura recebemos em ordem!
Ficamos admirados com a obra. O orçamento era fragmentado em diversos contratos, mas havia harmonia entre todos eles. Fomos bem recebidos num ambiente de fácil adaptação e obtivemos produtividades poucas vezes auferidas. Saímos satisfeitos com os dias que investimos na obra.
Alguma coisa muito diferente e positiva acontecia ali, diferentemente das muitas outras obras similares que fizemos. Alguma coisa que movimentava um círculo virtuoso e extraia o melhor de cada um. E esta coisa era visível para qualquer um que quisesse enxergar: Era a forma alegre e bem humorada que aquele competente executivo de varejo conseguia implantar no canteiro; era o respeito pelo trabalho de cada profissional que ele contratava e a sua autoridade desprovida de ameaça, mas cheia de curiosidade e energia.
“Eu te contrato e te dou as condições para você fazer. Por isso eu cobro.” Este era o seu lema.
Nossa passagem foi rápida. Em 30 dias o piso acabou. Mas foi o suficiente para perceber o poder do bom humor e do alto astral de um gestor sobre seus comandados, sobre o produto e o resultado final.
De toda esta história, concluímos que:
- Quem dirige obra precisa aprender a gerenciar pessoas.
- Que obra não se faz no berro. Com sorriso anda melhor.
- Que ambiente tenso é sinônimo de sofrimento, atraso no cronograma e prejuízo no bolso.
Um bom projeto, o concreto correto e mão de obra com empenho: Este foi o segredo!
Olá Edson, estou iniciando agora na construliga e achei bastante pertinente seu artigo “Piso em concreto: porque ficou bom?!”.
Parabéns pela iniciativa!
Um grande abraço!
Rildo Prado
Li em um artigo de planejamento de obra, e concorde,i que 70% das incongruências e não conformidades na entrega de uma obra, poderiam ter sido evitados no Planejamento estratégico.
A partir deste, o planejamento técnico e operacional conseguem ser bem mais efetivos.
Menos dúvidas nas detecções de peças fora da engrenagem.
boa tarde Eng. Edson,
No artigo na página 2, o senhor assumiu a direção dos serviços e o projetista do piso é o senhor? Não ficou claro.
Sergio