Durante muito tempo os estudiosos da reabilitação das edificações dedicaram-se a entender como poderia ser agregada mais vida útil, mais durabilidade aos seus sistemas e elementos construtivos. Mas quando temos a situação inversa? O que ocorre quando perdemos vida útil e durabilidade? Em que situações as perdemos?
Para levar uma edificação a seus limites de Vida Útil de Projeto – VUP, e até mesmo ultrapassa-los, foram desenvolvidas Normas Técnicas vindas da fusão entre as boas práticas e os estudos técnicos. O olhar positivista, por vezes até um pouco ingênuo, daqueles que priorizavam manter as edificações, sempre foi ofuscada pelo pensamento comum da maioria de construir, construir e construir.
Decisões de cunho técnico
Um estudante de Engenharia Civil é impelido a construção civil, isso tem muita engenharia envolvida, porém, o que fazer com todo patrimônio construído? Como mantê-lo? É um universo imenso de edificações construídas que necessitam de manutenção de qualidade, elas estão ganhado idade e estão entregues nas mãos de profissionais dos mais variados tipos. São médicos, advogados, bancários… muito prazer eles são os síndicos e administradores e tomam decisões de cunho técnico, na maioria das vezes em assembleia de condôminos nada técnicos, que tomam decisões de Engenharia em edificações jovens, maduras e até mesmo anciãs, com suas mais variadas características e usos.
Nadando contra a corrente do construir, os bravos Engenheiros Patologistas, descobriram que era possível manter mais e melhor, ou seja, mais preventivos e menos corretivos. É muito importante entender que as manutenções corretivas nunca irão deixar de ocorrer, seja uma conexão hidráulica que danifica e gera vazamento ou uma corrosão de armadura que surge ou mesmo a queima de uma placa eletrônica do elevador, porém elas deveriam ser sempre inesperadas. Mas o se vê são manutenções corretivas por desleixo e negligência. Através da Lei de Sitter podemos até entender a escalada do prejuízo financeiro frente ao momento da decisão de recuperar um sistema ou um elemento construtivo.
Os aplicados Engenheiros Diagnósticos criaram também caminhos para verificações técnicas com doses progressivas de complexidade de análise através da Engenharia Diagnóstica com seus 5 elementos na extraordinária sequencia: Vistoria, Inspeção, Auditoria, Perícia e Consultoria, e suas mais variadas sub-divisões e possibilidades, desde as constatações, análises técnicas, verificações de conformidades, elucidação de responsabilidades e prescrição da solução das manifestações patológicas. As aplicações destes métodos se tornam cada vez mais notadas, embora ainda precisamos de uma maior quantidade de engenheiros envolvidos.
Os patologistas entenderam de forma efetiva que intervenções técnicas de qualidade, acompanhadas por profissionais não somente habilitados, mais sim capacitados, poderia sim estender o Desempenho das edificações através do tempo proporcionando assim Durabilidade, intimamente ligada à Vida Útil. O Desempenho de uma edificação, teoricamente, está em seu nível mais alto no momento de sua entrega (fim da obra) e quando começa a ser utilizada, submetida a cargas, reformas, intempéries, ataques químicos. Então, com passar do tempo, iniciam-se as necessidades de manutenções, intervenções técnicas, reabilitações, revitalizações (segmentos vermelhos do gráfico abaixo). Então o Desempenho é renovado, não completamente, mas existe o ganho. Deste modo conseguimos adiar o fim da Vida Útil através no aumento do Desempenho.
Então em determinado momento tínhamos “a faca e o queijo na mão”, como não aproveitar tudo isso? Como deixar passar uma oportunidade extraordinária de realizar diagnósticos, prever prognósticos e elaborar prescrições assertivas? Pois bem, com todos esses elementos de Engenharia, a sociedade não absorveu a ideia, seja por negligência ou de outro lado a falta de habilidade comercial dos profissionais e até mesmo o foco geral em construir, a verdade é que tínhamos mesmo “a faca e queijo nas mãos”, mas deixamos passar uma bela oportunidade de cuidar melhor das nossas edificações.
No cenário da cidade de Fortaleza/CE, em 2019, tivemos vários exemplos de edificações com graves problemas, todas na faixa etária de 40 anos. Desabamentos, evacuações, perigosos desprendimentos volumétricos em fachadas… Coincidência? Não acreditamos. Analisando os fatos, na época da construção destas edificações (anos 70/80), projetavam-se obras para uma Vida Útil de Projeto de 50 anos, então o que houve com essas edificação para que não chegassem a este patamar? Pensando nisso imaginamos o que pode ser o inverso do Gráfico 3 – Tempo x Desempenho apresentado acima.
Neste Gráfico 4 apresentado abaixo, creio que de forma inédita, mostramos, o que para nós, é efetivamente verdadeiro. Se com intervenções técnicas adequadas há o ganho de Desempenho e consequente Vida Útil de uma edificação, a falta delas as mitigará, catalizando a degradação da edificação fazendo com que seu comportamento ao uso seja reduzido, atacando prematuramente sua Vida Útil de serviço. Entenda-se falta de intervenção técnica adequada (segmentos vermelhos do gráfico abaixo) como: negligência, imprudência e imperícia.
Este é o resultado da não utilização da Engenharia ou de seu uso incorreto. Sem dúvidas essas ações orquestradas por leigos ou incapacitados continuarão resultando em sinistros e tragédias em todo país. Este Gráfico 4 explicaria o que está ocorrendo não só em Fortaleza, mas em várias partes do Brasil. Apontando a negligência (exemplo: falta de manutenção), a imprudência (exemplo: despreparo) e a imperícia (exemplo: desqualificação), percebe-se que é isso mesmo que ocorre em nossas edificações. No fundo sabemos como e quem realizam as “manutenções” (quando realizam), quais os critérios financeiros de escolha de executores (o menor preço e não a técnica), a falta de lealdade e de ética até mesmo entre profissionais.
Após um sinistro de grandes proporções como foi o caso do desabamento do Ed. Andrea em Fortaleza, fica o clima tenso de medo que desperta o senso de responsabilidade das pessoas, pena termos memória curta, então retoma-se a roda viva viciosa das decisões e ações indevidas nas edificações. Vamos mudar isso, chega de amadorismo.